05 junho 2008

05/JUNHO/2008 - COMEMORAÇÕES OU RÉQUIEM - ARTIGO


5 de junho, dia mundial do meio ambiente: festa ou réquiem?

Por Maísa Guapyassú*


Sempre que vem chegando esse dia, muitas instituições se preparam para comemorar. Feiras, exposições, atividades de plantio de árvores, oficinas, cursos, enfim um grande cardápio de opções é oferecido. E vendo isso, sempre me pergunto: o que essas ações pulverizadas trazem? Será que quem as organiza, quem as freqüenta sabe do que se trata, sabe das questões complexas envolvidas? Sabe realmente o que está acontecendo no planeta?
Para muitos, essas atividades são só para constar. Entram no calendário escolar, no das instituições, e acabam sendo diluídas no mar de tarefas, fora do contexto real que provocaria reflexões sobre o dia e seu significado.
Esse nome, em nossa língua, já é esquisito: meio-ambiente. Duas palavras que significam a mesma coisa, e se o meu português não está enferrujado demais, é um pleonasmo. Vêm-me duas coisas à cabeça: ou é erro mesmo, vício de linguagem, ou um ato falho que quer frisar a importância que se tem que dar à questão.
Falo em ambiente e englobo qualquer coisa. Principalmente aquilo que interessa, em diferentes graus de profundidade, ao ser humano. E no meio desses interesses, está a conservação da natureza, na maioria das vezes no fim da fila.
A relação entre conservar a natureza e manter o planeta Terra viável para as espécies que o compõem é tão intrínseca, que é esquecida. Paradoxo? Não sei. Respirar é fundamental para os seres vivos, humanos inclusive. Mas nenhum ser tem consciência de sua respiração, da importância disso, enquanto respira. A gente só toma consciência da respiração quando tem dificuldade em respirar. Só percebe como a saúde é importante quando a perde. E acho que aí pode residir a chave do entendimento dessa relação estapafúrdia que o ser humano estabeleceu com a natureza: só presto atenção quando incomoda. E quando incomoda, vou tentar combater os sintomas, não as causas. Fico na superficialidade, não busco a essência.
E qual a essência da questão? A natureza tem que ser preservada, para que a vida seja possível. Vida só do ser humano? Posso até pensar assim. Mas para que o ser humano sobreviva, é necessário que milhões de outras espécies também sobrevivam, cada uma cumprindo uma função, fazendo parte de um quebra-cabeças intrincado, complexo e impossível de remontar se desmanchado.
Alguns poucos exemplos da superficialidade? Dia do meio ambiente, dia de falar de poluição de água. Fala-se em controle de poluição industrial, doméstica, do agronegócio. Mas não se fala que se eu não preservar florestas, vegetação das nascentes, não vou ter água suficiente sequer pra poluir.
Dia de falar de reciclagem. Mas não se fala que a meta deveria ser nem ter material para reciclar, porque lixo, qualquer lixo, é recurso natural seqüestrado, que jamais vai voltar para seu local de origem para ser reincorporado e voltar a fazer parte da estrutura do sistema que o originou. Complicado? É.
Simplificar demais as coisas, em muitos casos, desvia a atenção das causas, que devem ser combatidas. Aqui cabe o mesmo exemplo de causas e sintomas de doença.
Essa simplificação, o modelo econômico que adotamos, nosso afastamento deliberado ou não das causas do problema leva à noção de que a natureza é um grande supermercado. Num supermercado, pego o meu carrinho, vou retirando produtos da prateleira; se por acaso passo num local e não tem um determinado produto, aguardo um pouco que alguém repõe. Se faz uso da natureza com o mesmo espírito: retiro tudo o que quero, ponho no carrinho, e quando falta, espero que alguém reponha. Só que na natureza, dependendo da quantidade, da intensidade e da velocidade com que retiro os produtos da “prateleira”, eu destruo, inviabilizo os processos ecológicos essenciais responsáveis pela reposição dos “produtos” na “prateleira”. E aí, já era, usando uma expressão bem popular.
E estamos colecionando um monte de “já era”, faz tempo. Com relação a espécies que se extinguiram, sistemas naturais que desapareceram, com toda sua complexidade de espécies e interações. Muitos estão agonizando. E estamos cada vez mais, sentindo os efeitos dessa agonia.
Então, temos que finalmente acordar para uma realidade que foi e está sendo construída por nós. Uma construção que cada vez mais põe em risco a sobrevivência do planeta.
Precisamos encarar as causas, ter coragem para mudar o que precisa ser mudado, ir com o dedo na ferida e buscar a cura – para as causas, não só para os sintomas.
Isso se faz individualmente, com atos simples no dia a dia, que estão nos folhetos distribuídos inclusive nas comemorações do dia do meio ambiente; e coletivamente, como sociedade atenta, combativa e pró-ativa, que tem que mostrar aos nossos dirigentes que conservar nossa natureza é questão de sobrevivência. Que quer fazer isso. E isso tem que ser feito agora, para que esse planeta, tal qual o conhecemos e amamos, tenha realmente um futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário