24 novembro 2008

CARAMUJO AFRICANO - O PEQUENO GRANDE PROBLEMA




A presença de um molusco conhecido como "caramujo africano" em várias regiões do Estado motivou reunião da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais em 17/05/06. A espécie foi trazida para o Brasil no início da década de 80, para ser comercializada como alternativa ao escargot, outro molusco comestível. O cultivo não deu certo e os animais foram descartados na natureza. Hoje, segundo pesquisadores, está prestes a se transformar em um grave problema ambiental, sanitário e até de saúde pública. Ao final da reunião, os deputados Laudelino Augusto (PT), presidente da comissão; Doutor Ronaldo (PDT) e Sávio Souza Cruz (PMDB) apresentaram requerimento para que a Assembléia realize um ciclo de debates sobre o assunto.

A reunião desta quarta-feira foi solicitada pelo deputado Doutor Ronaldo. Segundo ele, em Sete Lagoas foram encontrados caramujos africanos em cinco bairros da cidade, o que despertou sua preocupação, principalmente por causa do risco de transmissão de doenças. O molusco, cujo nome científico é Acatina Fulica, é hermafrodita, coloca de 200 a 800 ovos por vez e vive até cinco anos solto no ambiente. Quando adulto, chega a medir 17 centímetros, com peso aproximado de 340 gramas. A pesquisadora e professora de zoobotânica da UFMG, Teofânia Heloisa Dutra Amorin, disse que nos últimos meses vem sendo procurada em seu laboratório por pessoas de todo o País, que querem informações sobre o caramujo. "Temos que buscar o controle da espécie, porque erradicar é praticamente impossível", alertou.

Como estão povoando terrenos baldios, depósitos de lixo e quintais, os caramujos se transformam em veiculadores de vários microorganismos e potenciais causadores de doenças, disse a bióloga Langia Coli Montressor. Na Ásia, são transmissores também de um tipo gravíssimo de meningite e de hemorragia abdominal causadas por um verme. "Ainda não encontramos nenhum caramujo infectado no Brasil, mas vivemos num mundo globalizado, não podemos nos esquecer disso", completou Langia. O molusco não tem predador natural no Brasil. "Não podemos esperar que haja uma situação de emergência para nos posicionar", advertiu o deputado Doutor Ronaldo.

Os deputados lamentaram a ausência de representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e do Ibama, também convidados para a reunião. Em justificativas, a Feam alegou não ter técnico especializado no assunto, e o Ibama disse que os funcionários do órgão estão em greve, por isso não enviaria ninguém. "É inexplicável a ausência de órgãos ambientais e agropecuários nesta audiência", afirmou o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB).

Todos os participantes da reunião enfatizaram a necessidade de um trabalho conjunto, sistemático e continuado para controlar a presença do caramujo no Estado. O representante da Secretaria de Estado da Saúde, Marcelo Henrique Marques, relatou experiências de eliminação dos moluscos em Ituiutaba e na região de Alfenas, mas reconheceu que essas ações não tiveram sucesso porque foram descontinuadas. Em Ituiutaba, em seis meses, a prefeitura recolheu 250 mil caramujos, que foram incinerados e jogados em uma vala. "Mais tarde ficamos sabendo que o Ibama está desaconselhando a queima", disse Marcelo Marques. "A catação pura e simples não é suficiente, as pessoas se cansam porque eles se reproduzem demais", completou a pesquisadora Teofânia Dutra Amorin.

Segundo informações do representante da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Miguel Ribon, a legislação brasileira, tanto federal quando estadual, proíbe a comercialização do caramujo africano. A despeito da proibição, Teofânia Amorin afirmou que é possível comprar exemplares até pela internet, com a maior facilidade. Miguel Ribon sugeriu que seja elaborado um plano emergencial de controle de espécie, a exemplo do que já existe no Estado com relação ao mexilhão dourado. Colher subsídios para elaboração do plano deve ser um dos objetivos do ciclo de debates proposto pelos deputados.

Extinção de espécies nativas - Um dos maiores problemas, segundo os pesquisadores, é que as pessoas, assustadas com a presença do caramujo africano, acabam eliminando outras espécies nativas e raras de moluscos, desequilibrando mais ainda o meio ambiente. "Em Belém (PA) já existem outdoors nas ruas, alertando para os perigos da Acatina Fulica. Então as pessoas estão catando tudo o que é molusco!", informou Teofânia Amorin. De acordo com Langia Coli, há muitos países na Ásia onde não há mais nenhum caramujo nativo, só o caramujo africano.

Deputado sugere aproveitamento econômico da espécie

A carne do caramujo Acatina Fulica é altamente rica em proteína e sua concha, em carbonato de cálcio. O deputado Sávio Souza Cruz questionou o porquê de não se utilizar o animal para fabricação de rações, por exemplo, estimulado seu aproveitamento econômico. Os pesquisadores presentes refutaram a idéia, dizendo que o assunto já foi muito discutido em fóruns e congressos, mas até hoje não se chegou a nenhuma proposta viável de aproveitamento. "Acho que vale ao menos uma tentativa. Não há produção de nenhuma fonte de proteína que não traga impacto ambiental", defendeu o deputado.

Langia Coli lembrou que animais exóticos não podem ser levados para outros ambientes, como tem sido feito, sem controle e estudo ambiental sério. "A Acatina acabou com a biodiversidade de algumas ilhas do pacífico. E mesmo assim, depois disso, ainda foi levada para outros países para ser aproveitada economicamente. Mas nunca deu certo", alertou. Segundo ela, apenas na África, habitat natural da espécie, ela ainda convive de forma pacífica com o ambiente, porque os caramujos são amplamente usados como alimento para a população, que não tem outras fontes de proteína, e também predados por algumas aves locais. Ainda assim, segundo ela, algumas tribos que vivem da agricultura são obrigadas a migrar, de tempos em tempos, por causa do caramujo. "No Brasil, não se consome esse tipo de animal, nem mesmo o escargot, que tem carne mais macia", disse a bióloga.

Marcelo Henrique Marques, da Secretaria de Estado da Saúde, lembrou que na maioria dos países, como Austrália e Estados Unidos, a criação e comercialização deste animal é proibida, por causa do risco que representa para a agricultura. Os caramujos africanos comem de tudo: a maioria dos vegetais, plantas ornamentais, restos de papelão e até isopor.


Fonte: Assembléia Legislativa de MG

Nenhum comentário:

Postar um comentário