01 novembro 2008

O SEGREDO DA MARAVILHOSA ÁGUA DE NOVA YORK - USA - REPORTAGEM GLOBO RURAL


...Vamos conhecer uma experiência que já fez 18 anos, já ganhou maioridade, e inspirou vários projetos no mundo afora.

Nova York é dura na queda. Estremeceu com o ataque às torres gêmeas em 2001, se corrói com problemas crônicos de lixo, desemprego, violência e intermináveis engarrafamentos de trânsito, foi varrida pelo vendaval financeiro de 2008, mas a cidade mantém de pé o seu charme, a sua fama. É o lugar mais procurado pelos turistas. São 40 milhões de visitantes por ano.

Entre os inúmeros encantos que fazem a fama de Nova York pouca gente sabe de uma das coisas mais preciosas que a cidade tem. É a excelente qualidade da água. Graças a uma bem bolada parceria com fazendeiros e proprietários de terra, Nova York ainda não tem estação de tratamento, só de filtragem. As pessoas bebem água pura da montanha e direto da torneira.

Na casa da família “Swafts”, periferia de Nova York, é assim. Pra servir uma visita, o Sasha “Swafts”, que é empresário e viaja o mundo todo vendendo máquinas, não tem pejo de encher a jarra na torneira e levar direto pra mesa.

“Vocês sempre bebem da torneira?”, pergunta o repórter.

“Desde criança. Aprendi assim. Meus vizinhos, meus amigos. A gente confia. Até em restaurante, a primeira coisa que fazem é trazer uma jarra de água da torneira.”, diz ele.

Sasha só não se surpreende com o fato de ser notícia pra nós o que é comum pra ele porque é casado uma brasileira, a dentista Luciana. Eles se conheceram num vôo. Ela morava na zona sul de São Paulo onde água tem um gosto forte por causa do pesado tratamento químico.

“E como a Luciana reagiu quando você ofereceu água da torneira pra ela?”, pergunta o repórter.

“Ela olhou pra mim muito desconfiada, não queria tomar”, diz ele.

“Eu perguntei. Falei: “como assim? De onde vem? Ele me explicou que é de uma reserva natural e que é extremamente pura”, conta Luciana.

“Esta água tem o frescor de uma manhã de verão, quando está úmido lá fora, o sol nascendo entre as árvores”, conta ele.

“O gosto é ótimo. O cabelo fica mais bonito, a pele mais macia. É realmente muito gostosa”, diz Luciana.

Pra ver de onde vem, onde brota essa água lendária, nós deixamos a cidade de Nova York rumo ao interior do estado. Saímos do nível do mar e subimos cerca de 200 quilômetros , como se fôssemos para o Canadá. No meio do caminho, a 1,2 mil metros de altitude, ficam as montanhas de Catskill.

As montanhas de Catskill não estão entre as mais conhecidas dos Estados Unidos como as dos apalaches, montanhas rochosas, mas ali fica uma cidade fundada há mais de 200 anos, uma cidade pequena e que ficou famosa no mundo inteiro em 1969 pelo que aconteceu ali.

Na música, no comportamento dos jovens representou uma revolução, o festival de Woodstock.
Foi o auge do movimento hippie. Mais de 400 mil jovens se reuniram ali para ver apresentações de rock.

Hoje, quase 40 anos depois, as lembrancinhas do festival é que alimentam o comércio da cidadezinha de Woodstock. São roupas, colares, posters.

Na nossa rápida passagem, encontramos um hippie tardio, na porta de uma lojinha, Rick Jay.

“Eu sou da segunda geração de Woodstock. Vim pra cá quando cresci. Alguém aqui tem que manter vivo o nosso velho símbolo de Paz e Amor. A propósito, é um documentário sobre o movimento hippie?”, conta ele.

“Não. É sobre a água de Catskill”, diz o repórter.

“Ah!, cara. É a melhor água do planeta.Mas, por favor, não divulgue isso porque se não vai encher de gente aqui, outra vez. O que precisamos é proteger nossa água, aqui.”, diz Rick Jay.

A água que o hippie quer proteger chega na casa do Sasha e da Luciana. Na verdade, as nascentes estão protegidas há mais de um século. Ficam dentro de um parque que o Estado de Nova York criou em 1904.

Dentro do parque, ao contrário do que acontece no Brasil, há várias vilas, cidadezinhas. Tem mais de 50 mil moradores. As áreas de conservação convivem com a zona rural.

Quem se ofereceu para nos apresentar os fazendeiros parceiros da cidade de Nova York é o engenheiro florestal Tom O’Brien, diretor executivo da Wac, Watershed Agricultural
Council.

“Prazer em conhecê-lo”, diz ele.

“O prazer é meu”, diz o repórter.

“Sejam bem-vindos”, diz ele.

Ele é diretor executivo de uma coisa que não existe no Brasil. Não é uma ONG, organização não governamental, não é uma cooperativa, uma associação, é um conselho formado por proprietários rurais que já investiu mais de 100 milhões de dólares em benfeitorias.

“Muita coisa. São várias práticas de manejo. É um programa amplo que, ao mesmo tempo, preserva a água e melhora o desempenho da fazenda. Meu carro. Mas, venha comigo no meu carro pra você ver na prática o que estamos fazendo”, diz ele.

Nossa primeira visita é ao mister Steve Reed que tem 60 hectares , dois terços de mata. No
pasto, agora, cria um gadinho de corte vende lenha, mas a renda com que conta mesmo, vem de duas fontes: pela reserva de mata, todo ano recebe da Prefeitura de Nova York, cerca 10 mil reais.

“Ah! Sem esse dinheiro do programa, não sei o que faria para pagar meus impostos”, diz ele.

A outra fonte de renda vem do bosque para onde mister Steve Reed nos leva. É uma árvore nativa da região.

O nome da árvore é maple, mais conhecido entre nós é árvore do Canadá, com a folha de três pontas. Assim como o urso guarda gordura para passar o inverno, esta árvore armazena açúcar para o momento da quebra da dormência, quando na primavera vai enflorar outra vez. Assim como da folha da seringueira se faz látex, desta árvore se faz o xarope mais consumido nos Estados Unidos. É uma árvore que dá açúcar.

“A gente ordenha a árvore num período bem curto, de fevereiro a março. É quando cai geada na madrugada, mas depois o dia esquenta. E a seiva começa a subir pelo tronco”, diz Scott Reed, agricultor.

O filho de Steve Reed, Scott, conta que fazem uns furos no tronco, assim. Enfiam neles umas chupetas e, por gravidade ou bomba a vácuo, aspiram a seiva. Ela segue por uma fiação até as caldeiras. Fervida, como a garapa pra fazer melado de cana, a seiva se transforma no delicioso xarope de maple, aquele melzinho que em filme a gente vê o americano pondo nas panquecas do café da manhã.

“Esta árvore é o esteio da renda de muitas famílias nesta parte dos Estados Unidos e do Canadá. O programa de conservação paga engenheiros florestais para orientar o produtor a tirar mais proveito do bosque. Antes da assistência técnica, porém, resolvemos os problemas de poluição de água que existem na propriedade.”, diz Tom O’Brien.

A fazenda do mister Steve Reeds fica na cabeceira de um rio que mais abaixo dá nome a um estado americano. Fica a 200 quilômetros da cidade de Nova York. Lá milhares de pessoas bebem do ribeirão que passa em frente da casa dele. Para garantir a qualidade da água a prefeitura de Nova York pagou pra ele um novo sistema de captação de esgoto e que custou o equivalente a 50 mil reais, investimento que ele não poderia bancar sozinho.

“Nem em sonho eu conseguiria fazer o que construíram aqui. Essa tampa que você vê aí é de uma caixa de concreto subterrânea. É um pequeno tanque de captação tanto da água de pia e chuveiro como das privadas. Daqui, o esgoto é canalizado. Veja só a tubulação passando sobre o córrego. Vai para esta outra caixa maior. E desse ponto ela é bombeada para o alto do terreno.”, conta Steve Reeds.

Não se vê nada pois está tudo enterrado, mas de um determinado ponto, o esgoto é alçado cem metros acima e, só então, é feito a descarga. Nessa distância, a sujeira é filtrada pelo solo de modo que estará limpa quando cair no lençol e chegar ao córrego.

“A minha antiga fossa fica na beira do córrego. Infiltrava de um jeito que não podia imaginar.”, diz Steve Reeds.

“Quantas sistemas de esgoto como este foram construídos nas fazendas daqui?”, pergunta o repórter.

“Muitos. Mais de trezentos.”, conta Tom O’Brien.

Se a casinha solitária de Steve Reed, imagine as milhares de outras moradias que existem dentro do parque de Catskill. Pois, essas comunidades também entraram na parceria. Veja o caso do pequeno distrito de Andes que tem três mil habitantes. Ganhou uma que big estação de tratamento de esgoto e até os custos de operação são pagos pela prefeitura de Nova York.

“E por que uma estação tão grande?”, pergunta o repórter.

“Faz parte do acordo entre os governos daqui e de lá. Andes só vai poder crescer até o limite da capacidade da estação de tratamento de esgoto. Quer dar uma olhada na descarga do esgoto tratado. Olha como a água sai?”, diz O’Brien.

Fonte:

http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-330364-1,00.html

Isto sim, são lindos exemplos para serem seguidos...!!!

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